sábado, 7 de março de 2009

Entrevista à Psicóloga Ângela Rodrigues


No 2º Período, realizamos, entrevista à psicóloga Ângela Rodrigues. Esta psicóloga desenvolveu um estudo com uma amostra de alunos de uma escola do norte, sobre o comportamento dos mesmos durante a exposição solar. Deste modo, decidimos entrevistá-la com o objectivo de compreendermos em que consistiu o seu estudo, bem como os resultados e conclusões que foi possível obter. Assim, pretendemos entender a relação dos jovens com o sol e estabelecer uma comparação dos resultados que obtivemos no inquérito aplicado na nossa escola, com os resultados obtidos pela psicóloga. Além disso, esta entrevista irá ajudar-nos no decorrer do nosso Projecto.
  • Qual a sua formação em termos académicos?
Sou licenciada em Psicologia e fiz o ano passado mestrado integrado em psicologia da saúde.
  • Tomamos conhecimento que realizou um estudo sobre a protecção solar. Em que consiste o estudo?
O grande objectivo do estudo é analisar os factores que influenciam o uso do protector solar. Contudo, analisar a prevalência do uso do protector solar em jovens portugueses, constitui outro objectivo, dado que não existem muitos dados sobre isso.
Existe um estudo feito neste âmbito, mas já tem alguns anos e não fornece dados concretos quanto a este comportamento, e envolve o estudo dos tais factores nomeadamente ao nível das atitudes, da influência dos outros e na percepção que a pessoa tem se consegue ou não utilizar protector solar com o intuito de verificar o que é que influência este comportamento.
  • O que levou a realizá-lo?
Isto surgiu ainda, durante a licenciatura, de certa forma por sugestão de uma professora e na altura, dado que não sabia nada sobre protecção solar, decidi ler algo sobre isto.
O estudo que encontrei cativou-me bastante, e foi essa a razão que me levou a estudar comportamento das pessoas durante a exposição solar. Além disso, o facto do número de cancro de pele estar a aumentar em todo o mundo, nomeadamente em Portugal, constituiu também uma das razões. Verifica-se um número elevado de cancro de pele, melanoma e não melanoma e acho que esse número de cancro de pele é ainda mais alto do que nós pensamos. Algo interessante na altura, foi verificar que o protector solar é eficaz na prevenção do cancro de pele, assim pensei porque não estudar este comportamento? Dado que permite prevenir uma doença grave, tanto em termos mortais, como também no caso em que uma pessoa fica muito desfigurada.
  • A que tipo de recursos recorreu para a sua realização?
O estudo foi realizado através de inquéritos que apliquei em estudantes de uma escola secundária. Este estudo teve várias fases, não foi só um inquérito, foram vários, em vários momentos, para tentar perceber se havia uma mudança. Avaliei em Março e depois voltei a avaliar em Junho, para verificar se havia uma diferença em termos de comportamentos, uma vez que em Março não está propriamente muito sol.
  • Qual o tamanho da amostra onde aplicou o inquérito?
Inicialmente foram cerca de 177 participantes, depois no segundo momento de avaliação foram 156, os mesmos que responderam na primeira vez, por isso é que foram apenas 156. Na segunda vez consegui mais alguns participantes novos, que não tinham respondido na primeira vez, mas só inclui os 156 que tinham respondido nas duas vezes aos inquéritos, porque os estes não tinham todos as mesmas questões.
  • Qual o grupo alvo do estudo em questão?
Como já disse, inicialmente eram os estudantes do ensino secundário, tinha turmas de 10º, 11º e 12º ano de uma escola do concelho de Guimarães.
  • Que resultados obteve com o estudo realizado?
Os resultados foram um pouco de encontro ao que se tem obtido num contexto internacional, em outros estudos mundiais, ou seja, o uso do protector solar é muito baixo nos adolescentes. Neste estudo encontrei os seguintes resultados:
Só 14% dos adolescentes disse que usava regularmente protector solar;
Só 14% usava um protector solar com um índice maior de 15.
Isto é interessante, pois 14% dizem que usam frequentemente protector solar e depois 14% dizem que usam um índice superior a 15.
Eles podem dizer com que frequência usam protector solar, e depois se usam um factor de protecção superior a 15. Nesta questão podem dizer não ou sim, dado que podem utilizar um protector com um índice inferior a 8, ou inferior a 12, e já não é superior a 15. O índice de protecção solar 15 é o ponto de corte estabelecido, e existe concordância entre as várias instituições, por exemplo a Associação Americana do Cancro de Pele, a Associação Australiana e a Organização Mundial de Saúde consideram que o índice 15 é o ponto de corte, portanto é a partir deste que o protector solar é eficaz, protegendo das queimaduras solares.
O factor necessário vai variando consoante o tipo de pele, dado que uma pele sensível queima facilmente e a reacção que tem ao sol é mais imediata do que uma pele menos sensível. Portanto o protector solar tem de ter um factor de protecção mais elevado do que um tipo de pele moreno.
Uma das questões era "qual é o índice de protecção solar que normalmente usam", e fazendo a média daquilo que os alunos disseram, era mais ou menos 25, o que até não é mau, em termos gerais até é bom. Contudo o desvio é muito grande, muitos responderam que usavam 5, 6 e 8 e outros que usavam 60+, daí que a média seja 25, o que também pode estar aqui a influênciar é a questão do tipo de pele.
Em termos de outros resultados, também muito pertinente é a questão de quem é que usa mais, rapazes ou raparigas, de certa forma, não é novidade que as raparigas usam mais protector solar do que os rapazes, além disso também reaplicam mais vezes e tendem a usar um protector solar com índice superior a 15, ou seja para além de usarem mais têm um uso mais eficaz do protector solar.
Também tentei ver se havia alguma relação do uso do protector solar com os tipos de pele. Numa questão pedia-se ao aluno para identificar o seu tipo de pele e qual era a reacção desta ao sol.
A questão é que não encontrei diferenças a esse nível, o que é estranho, uma vez que outros estudos mostram que as pessoas com um tipo de pele mais sensível usam mais protector solar, dado que percebem que são mais susceptíveis, que se queimam mais facilmente, tentando-se proteger das queimaduras,
Penso que aquilo que pode estar a influenciar esta situação, é o facto dos adolescentes não perceberem que podem ter um tipo de pele sensível e que podem queimar mais e assim não são capazes de fazer uma correcta avaliação do seu tipo de pele. Avaliam-se com muito optimismo, porque acham que nunca nada vai acontecer, que só acontece aos outros.
Por estas razões, pode ter ocorrido um erro um erro na avaliação do tipo de pele, os jovens não sabem avaliar o seu tipo de pele. No total, 72 pessoas acharam que tinham um do tipo de pele 5 e 6, que são os tipos de pele atribuídos a pessoas de raça negra, e como eu estive envolvida em quase toda a recolha de dados, pude verificar que só haviam 3 pessoas de raça negra, portanto, as outras 69 pessoas avaliaram incorrectamente o seu tipo de pele. Além disso, os alunos podem não ter informação sobre isso, lembro-me que ao fazer uma acção de formação nessa mesma escola, com outros alunos que não participaram no estudo, quando chegava à parte de identificar o tipo de pele, toda a gente se enganava nesta identificação, tendiam a avaliar-se como menos sensíveis.
Com o estudo, descobri também que ter uma atitude mais favorável em relação ao uso do protector solar, isto é, se eu achar que traz benefícios eu utilizar protector, uso mais, e isto comprovou-se, o que também faz sentido. Além disso, a influência dos outros, também mostrou ser importante para o uso do protector solar, ou seja se os outros usam, mais facilmente eu uso.
Também mostrou ser pertinente a questão dos jovens planearem o uso do protector solar, isto é, colocarem na mochila, tentarem não se esquecer, e fazer estratégias, como pôr perto da saída, ou colocar num sítio visível para não se esquecerem de levar, ou pedir a alguém para se lembrar.
  • Que conclusões retirou do estudo?
Um das conclusões do estudo é que o uso do protector é baixo, por isso é necessário desenvolver programas, intervenções, e outras actividades para promover o uso do protector solar na adolescência.
Este tipo de acções de formação sobre a protecção solar é importante, e é ainda mais pertinente ser feita em adolescentes, porque a adolescência é um período crítico para o desenvolvimento de cancro de pele. Os estudos mostram que queimaduras solares na infância e na adolescência predizem no futuro o desenvolvimento de cancro de pele, por isso é neste período que se deve adoptar uma protecção eficaz.
Outra conclusão (que já referi anteriormente) é relação existente entre o sexo e o uso do protector. Por este motivo, ao serem realizadas acções de formacão, programas e intervenções na área da protecção solar, é importante ter em atenção que o sexo masculino constitui um grupo de risco e por isso deve ser um grupo prioritário.
Para além disso, as intervenções devem conduzir as pessoas a ter atitudes mais favoráveis, mostrando os benefícios da utilização do protector solar, também devem mostrar como ultrapassar a questão da influência dos outros. Tem de se fornecer às pessoas estratégias para lidar com a pressão social, e na adolescência ainda mais. Além disso, deve-se ensinar aos jovens como é que se coloca o protector solar, quando é que devemos colocar e quando é que devemos reaplicar.
O cancro cutâneo é aquele que se pode prevenir mais, porque o factor crucial para o cancro de pele é a exposição solar, ou seja, o factor que influência este cancro é comportamental, logo pode ser alterado e compete às pessoas fazê-lo.
Conclusão retirada da análise da entrevista:
Com a realização desta entrevista, foi possível tirar preciosas conclusões acerca da protecção solar em geral, que nos irão auxiliar no desenvolvimento do nosso projecto. Além disso, estabelecemos uma comparação entre os resultados obtidos pelo estudo da psicóloga e os que foram obtidos pelo nosso inquérito.
A Dra. Ângela Rodrigues, com a realização do seu estudo, concluiu que o uso do protector solar na adolescência é muito reduzido em geral, o que se trata de uma situação alarmante, visto que esta fase é crítica para o desenvolvimento de cancro cutâneo no futuro. As queimaduras solares na infância também predizem o surgimento deste tipo de cancro numa fase mais adulta. Outra conclusão bastante pertinente consiste na influência que os jovens têm entre si, ou seja, por vezes alguns jovens são levados à não utilização do protector apenas porque os seus colegas não o usam.
Por estes motivos, é necessário intervir com palestras, acções de formação e colóquios que forneçam informações e estratégias sobre a protecção solar, esclarecendo quais os benefícios de uma protecção eficaz. É urgente sensibilizar os jovens para a adopção de uma protecção solar saudável durante a exposição ao sol, de modo a modificar o comportamento de risco que a maioria dos jovens apresenta. Todas estas acções são bastante importantes, dado que o cancro cutâneo é aquele que se pode prevenir mais, apenas compete aos jovens alterar os seus comportamentos incorrectos face ao sol.
Relativamente aos resultados, verificamos que 56% dos alunos que responderam ao nosso inquérito usavam sempre protector solar durante a sua exposição ao sol, enquanto que apenas 14% dos alunos inqueridos pela psicóloga usavam regularmente protector solar. Como podemos observar, estes dados não se compatibilizam, uma vez que com o nosso estudo obtivemos uma maior percentagem de alunos a usar protector solar do que a psicóloga. Além disso, foi possível averiguar com o nosso estudo que 86% dos alunos utilizavam um índice de protecção solar maior que 15, o que não aconteceu no estudo da psicóloga que apenas obteve 14% dos alunos a usar um índice de protecção solar maior que 15. Esta situação pode ser explicada pelo facto da nossa amostra ser muito mais pequena que a amostra utilizada pela psicóloga, enquanto que 70 alunos responderam ao nosso inquérito, no inquérito da Dra. Ângela responderam 177. Outro facto que pode ter influenciado esta diferença entre os resultados pode estar relacionado com a dimensão do inquérito, visto que o questionário da psicóloga era muito mais elaborado e especificado, por se tratar de um estudo mais abrangente e aprofundado.
Por outro lado, verificou-se uma concordância relativamente à relação entre o sexo e o uso do protector solar, dado que os resultados que obtivemos nesta área aproximam-se dos resultados do estudo da psicóloga. Foi possível concluir que o sexo feminino tende a usar com uma maior frequência o protector solar, contrariamente ao sexo masculino. A média do índice de protecção solar obtido pelos dois estudos foi relativamente próxima, enquanto que no nosso estudo obtivemos uma média de 26, no estudo da psicóloga verifou-se uma média de 25. Estes resultados devem-se ao facto de alguns jovens terem respondido que usavam um índice de 2 e outros um índice de 60, o que leva a um grande desvio entre os resultados. Além disso, os tipos de pele também coincidiram, visto que nós obtivemos 35% dos alunos com pele do tipo moreno/escuro e a psicóloga obteve 41% de alunos com o referido tipo de pele. Como ja foi explicado anteriormente no dossier de projecto, na discussão dos resultados do estudo, os alunos inqueridos nos dois estudos realizados caracterizaram o seu tipo de pele com muito optimismo, levando a que estes seleccionassem uma resposta que identificava incorrectamente o seu tipo de pele.
Concluímos que a entrevista realizada à Dra. Ângela Rodrigues ajudou-nos bastante na interpretação dos resultados obtidos no nosso estudo, bem como no desenvolvimento do nosso projecto em geral. Como foi verificado, alguns dados não coincidiram devido à situação explicada anteriormente, mas foi possível encontrar uma certa concordância entre alguns dados.

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